Abuso Infantil, a Criação da imagem do Agressor e a Polarização
- matheuschequim
- 26 de mai. de 2021
- 4 min de leitura
Atualizado: 14 de ago. de 2021
Você realmente conhece os fenômenos relacionados ao Abuso Infantil? Já ouviu fala de PSB? Venha conferir sobre nessa publicação do Maio Laranja!
Estamos trazendo alguns artigos sobre esse tema por conta que nesse mês (Maio Laranja) se conscientiza sobre a prevenção e conscientização ao abuso e exploração infantil no Brasil. Comumente quando pensamos sobre o tema imaginamos o agressor no Brasil como um homem velho (mais de 50 anos), sozinho, e que “caça” crianças a quem pretende abusar, e nosso intuito nesse texto é refletir sobre essa imagem do imaginário popular do abusador infantil e a polarização da relação vítima-abusador.
O PSB em jovens
Para começar vamos entender um fenômeno entre jovens (tanto crianças até adolescentes) pouco comentado, os comportamentos sexuais problemáticos (PSB, problematic sexual bahaviors) em jovens, que são aqueles que caem fora da norma, ou seja, comportamentos não esperados para aquele estágio de desenvolvimento do jovem, e que envolve uma parte do corpo erótica (genitais, seios etc), e pode causar dano ao outro. O PSB não é típico, e normalmente envolve jovens com diferenças no desenvolvimento, em tamanho, idade ou conhecimento sobre o tema. O PSB é uma linha continua, então os mais severos envolvem ameaça, força, coerção, e pode ou não envolver algum tipo de suborno para o outro engajar nesse contato sexual.
Além disso, outras características de PSB é o não consentimento entre os jovens envolvidos e esse comportamento continuar apesar de intervenções de cuidadores. O ocorrido pode gerar medo ou ansiedade para a vítima (quando não extremos), e é importante afirmar que quando PSB envolve falta de consentimento, uso de poder, ameaça, controle, ou intenção de machucar o outro e/ou servir para prazer próprio ele se enquadra como abuso sexual infantil (CSA, child sexual abuse). Embora não esperamos, esse tipo de caso não é raro, de acordo com as autoridades dos Estados Unidos e do Reino Unido, dos casos que as autoridades conhecem entre um terço até metade dos casos de abuso sexual infantil envolvem um jovem agindo sobre outro jovem.
Assim é interessante pensarmos como é um fenômeno invisibilizado não somente no conceito popular, mas como até na academia, e isso é extremamente preocupante pois se parte da imagem comum do agressor e não imaginam que uma criança de 10 anos por exemplo pode estar sendo um abusador. Isso além de invisibilizar o fato prejudica a vítima, pois as pessoas não enxergam aquilo como abusivo até problemas mais graves começarem a ocorrer.
A Polarização da Vítima-Agressor
Também queremos abordar a polarização vítima-abusador, onde a vítima ocupa o lugar de compreensão e empatia e o abusador de ódio extremo e repugnância. Além desse pensamento ser extremamente comum, ele não ajuda em nada, nenhum dos lados, então gostaríamos de mostrar que o abusador (no contexto do PSB entre jovens) pode como na maioria das vezes também é vítima, e a partir do momento que só destinamos ódio ao abusador não entendemos o fenômeno como um todo.
De acordo com os resultados de uma pesquisa de deLago, Schroeder, Cooper, Deblinger, Dudek, Yu e Finkel (2020) em que foi feito uma revisão retrospectiva nos dados da “Child Abuse Research Education and Services (CARES) Institute”, a partir de casos que após um exame médico foi diagnosticado que um jovem (tanto criança quanto adolescente) tinha tido contato sexual inapropriado com outro jovem. Criou-se uma tabela com os resultados apontando fatores de riscos e eventos adversos que o jovem iniciador do contato sexual inapropriado tem, os itens mais constantes foram: pais que não vivem juntos (81%), problemas escolares (61%), histórico de violência doméstica em casa (59%), histórico de exposição a mídias sexuais (58%), histórico de abuso físico (56%) e histórico de abuso sexual (47%).
Conclusão
A partir disso podemos entender que praticamente (de acordo com o estudo) todos os jovens que iniciaram os atos já tinham sido e/ou estavam sendo vítimas de algum tipo de situação abusiva. Assim é interessante pensarmos que essa polarização, essa imagem do abusador, ela não serve para ajudar ninguém, nem a vítima nem o abusador (que tem altas chances de já ter sido vítima), ela simplesmente invisibiliza o fenômeno e facilita sua ocorrência.
Texto por Matheus Chequim
Referências
DeLago, C., Schroeder, C. M., Cooper, B., Deblinger, E., Dudek, E., Yu, R., & Finkel, M. A. (2020). Children who engaged in interpersonal problematic sexual behaviors. Child abuse & neglect, 105, 104260.
Shawler, P., Silvis, V. G., Taylor, E. K., Shields, J., Beasley, L., & Silovsky, J. F. (2020). Early identification of youth with problematic sexual behavior: A qualitative study. Child abuse & neglect, 105, 104317.
Chaffin, M., Berliner, L., Block, R., Johnson, T. C., Friedrich, W., Louis, D., & Silovsky, J. F. (2008). Report of the ATSA Task Force on children with sexual behavior problems. Child Maltreatment, 13, 199–218. https://doi.org/10.1177/1077559507306718.
Finkelhor, D., Ormrod, R., & Chaffin, M. (2009). Juveniles who commit sex offenses against minors. OJJDP juvenile justice bulletin. Retrieved from http://www.ojp.usdoj. Gov/ojjdp.
Finkelhor, D., Turner, H. A., Shattuck, A., & Hamby, S. (2015). Prevalence of childhood exposure to violence, crime, and abuse: Results from the National Survey of Children’s Exposure to Violence. JAMA Pediatrics, 169, 746–754. https://doi.org/10.1001/jamapediatrics.2015.0676.
Hackett, S. (2014). Children and young people with harmful sexual behaviours. Dartington, London: Research in Practice.
Jones, L. K., Nguyen, A., & Cohen, J. A. (2014). Child sexual abuse. Child and Adolescent Psychiatric Clinics of North America, 23, 321–337. https://doi.org/10.1016/j. chc.2014.01.003.
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