A psicologia do Carnaval
- Allan Kisner
- 15 de fev. de 2021
- 2 min de leitura
Atualizado: 4 de mar. de 2021
Como a maior festa do país coloca traços-chave da sociedade no holofote, para o bem e para o mal

Alguns traços são evidentes em nossa sociedade: a glorificação do excesso de relações superficiais, o medo generalizado de enfrentar desafios e dificuldades, o não saber lidar com as frustrações e situações adversas que fazem parte do próprio viver humano e que, muitas vezes, são até mesmo necessárias para o aprendizado e crescimento.
Por alguns dias, todo ano, experimentamos um grande representante simbólico e cultural de tudo isso: o Carnaval. Nele, não há espaço para o desprazer, que é deixado de lado para que os instintos tomem conta quase que por completo. A própria representação do evento é focada na libertação, a exemplo da liberalidade sexual e do uso frequentemente abusivo de bebidas alcoólicas, drogas e até do corpo alheio.
As consequências, por vezes, ficam nestes poucos dias de festa, em que a folia permite um escape sem culpa das dificuldades e temores quotidianos. Outras vezes, elas acompanham os envolvidos para muito além do Carnaval. Furtos, depredações, acidentes e excessos, simbólicos e concretos, físicos e psicológicos: transgressões ao que é comum, desconsideração à liberdade do outro. Como mostram dados coletados pela Gênero e Número, em São Paulo 53% dos casos de estupro de vulnerável dos primeiros trimestres de 2015 a 2019 aconteceram no Carnaval.
"É como uma licença poética do comportamento, um escapismo."
Há também o outro lado da moeda: a leveza, a festa, a alegria evocada no imaginário brasileiro quando se pensa no Carnaval. As músicas animadas, com letras divertidas, trazem às pessoas alegria, promovem união entre raças, culturas e crenças diferentes. Há uma grande promoção às manifestações culturais que envolvem a comunidade em trabalhos artísticos e culturais que resultam em um grande impulso para a criatividade e o surgimento de novas ideias.
Por fim, lembramos do Carnaval também como palco da defesa de bandeiras históricas, políticas e sociais, como vemos anualmente nos blocos que ocupam as ruas. A luta antimanicomial, os direitos da criança e do adolescente, o empoderamento feminino e o respeito à diversidade sexual são exemplos de temas colocados em pauta nos últimos anos, com o Carnaval promovendo sua discussão. A própria saúde mental já foi tema de desfile de escola de Samba: em 2018, a Unidos do Viradouro levou consigo no enredo o tema "A loucura como potência criadora", que defendia principalmente a luta antimanicomial.
Texto por Allan Kisner
Edição por Natalie Vanz Bettoni
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