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Bloquinho da Psico: Freud, Jung e o Carnaval

  • Allan Kisner
  • 16 de fev. de 2021
  • 3 min de leitura

Atualizado: 4 de mar. de 2021

Apesar de este ano ficarmos só na saudade, não poderíamos deixar de falar da maior festa brasileira e suas relações com a Psicologia. Com vocês, Freud, Jung e o Carnaval


O Carnaval brasileiro como o conhecemos é um resquício e uma evolução da tradição do cristianismo ocidental, que vai muito além de seu histórico como festa cristã. O Carnaval se assemelha a festividades de civilizações ainda mais antigas: os egípcios em suas festas de culto à deusa Ísis; os gregos em festas consideradas profanas em homenagem ao deus Dionísio e seus bacanais; as saturnais na Roma antiga; e também os diversos cultos à fertilidade de antigas tribos germânicas.


Independente da época ou da cultura, o Carnaval é conhecido pelo uso das máscaras, pinturas corporais, fantasias e outros adereços. Há um aprofundamento na estética do corpo associada ao erotismo: toma centro a busca pelo prazer imediatista, vivenciado no “aqui e agora”.


Para compreender como isso se relaciona com a Psicologia, será necessário entender alguns conceitos-chave: persona e sombra, de Jung, e inconsciente, de Freud.


As máscaras de Jung...


Derivado da palavra latina equivalente à máscara, o conceito de persona é colocado por Jung como um complexo funcional que surge por razões de adaptação ou necessária comodidade, dizendo respeito à relação do indivíduo com os objetos.


Há dois tipos de persona: a de quando estamos sozinhos e a destinada ao convívio social. Suas características podem ser positivas ou negativas, variando de pessoa para pessoa. A persona destinada ao convívio social pode ir contra os verdadeiros traços do indivíduo, criando uma identidade mascarada e artificial, protegendo o ego e reprimindo sentimentos.


...e o inconsciente de Freud


O inconsciente, ponto central na teoria de Freud, não é um lugar anatômico, mas sim psíquico, com conteúdo, mecanismos e energia específicas. Baseando-se em sua experiência clínica, Freud propõe que o psiquismo não se reduz ao consciente e que alguns conteúdos só podem emergir à consciência após superarem resistências.


Assim, a vida psíquica seria formada por vários pensamentos que têm eficiência mesmo enquanto inconscientes, dando origem aos sintomas. Os conteúdos do inconsciente são representantes da pulsão fixa em desejos, fantasias e histórias imaginárias, e normalmente são assimilados ao que é recalcado.


O Id é a estrutura da mente proposta por Freud que se relaciona intimamente com o inconsciente: é o núcleo original da personalidade, onde se encontra o campo pulsional. Sua função é aumentar o prazer e reduzir o desconforto, compreendendo em si estímulos somáticos que exigem da mente a satisfação imediata.



Aqui entra a sombra de Jung: afeiçoada ao inconsciente, é composta pelo que é rejeitado pela persona. Quanto mais forte a persona, ou seja, quanto mais nos identificamos com a identidade construída por nós para o convívio social, mais repudiamos as partes de nós mesmos que diferem desta persona.


Assim, a sombra representa o que consideramos inferior em nossa personalidade, e também aquilo que negamos e não desenvolvemos em nós mesmos.


Em Além do Bem e do Mal, Nietzsche diz que "Tudo o que é profundo ama a máscara", e a máscara está longe de ser apenas um adorno de Carnaval. Seu valor ultrapassa a estética: é purgatório, catártico.


Ô abre alas, que o Id quer passar


Brinquemos com as instâncias psíquicas: no Carnaval, o Id se solta e a Sombra se liberta. A dupla escancara as portas, salta para fora e segue para a folia, arrastando consigo o Ego e a Persona — que em um primeiro momento podem até resistir, mas depois acabam aderindo à festa.


A sombra/inconsciente das pessoas se inflama e toma voz: as máscaras, a sensação imprimida pelo evento, as propagandas, o uso de substâncias, a cultura, tudo colabora para o rompimento dessas instâncias.


O Carnaval é um momento onde o sujeito pode ser quem ele quiser, através de suas fantasias e máscaras. O momento é ansiado por muitos justamente por permitir a liberdade e vivência de desejos. Não é raro que se cometam atos que, em outras circunstâncias, seriam chamados de "loucuras". Inclusive, a palavra folião deriva de folie, termo francês para loucura.

Como já disse Chico Buarque, "tô me guardando pra quando o Carnaval chegar". Em um ano atípico como o de 2021, sem o tradicional Carnaval de rua, seguimos nos guardando para quando a vacina chegar — e guardando também a folia e todas as "loucuras" que podem nos frustrar para quando chegar o dia da terapia. A verdadeira transformação ocorre de dentro para fora e é ela que nos liberta: não se sufoque atrás de máscaras (a não ser que seja para se proteger da pandemia).



Texto por Allan Kisner

Edição por Natalie Vanz Bettoni

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