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O Bêbado e a Equilibrista: a canção símbolo da redemocratização no Brasil

  • Mariana Vianna
  • 15 de mar. de 2021
  • 3 min de leitura

Atualizado: 28 de mar. de 2021

Canção de João Bosco e Aldir Blanc, eternizada na voz de Elis Regina, é lotada de referências às opressões da Ditadura Militar

Entre os anos de 1964 e 1985, o Brasil viveu uma época dolorosa de sua história: a Ditadura Militar. A canção "O Bêbado e a Equilibrista" é lotada de referências ao período e, por pedir a volta do irmão do cartunista Henfil, que partiu para o exílio em 1971, fugindo da repressão militar, ficou popularmente conhecida como Hino da Anistia, A música virou símbolo da redemocratização. Sua composição se deu inicialmente em homenagem à morte de Charles Chaplin, em 1977, por João Bosco e Aldir Blanc, e foi interpretada por Elis Regina no ano de 1979. Escute enquanto você acompanha a análise da letra e suas relações com a Ditadura, feita por Mariana Vianna.


“Caía a tarde feito um viaduto

E um bêbado trajando luto me lembrou Carlitos”

  • O Viaduto Eugène Freyssinet, conhecido como viaduto Paulo de Frontin, é referenciado logo no início da canção. O elevado sofreu um desabamento sobre a Avenida Paulo de Frontin meses após a sua inauguração, deixando dezenas de mortos e feridos. Além da tragédia, a época foi marcada pela impunidade e descaso dos militares que governavam o país.

  • Carlitos foi o principal personagem de Charles Chaplin, um homem de classe baixa, descuidado, porém com atitudes muito nobres. Charles Chaplin utilizou do humor para fazer críticas sociais extremamente relevantes até os dias de hoje. Carlitos é referenciado na música duas vezes, representando o povo brasileiro e seu sofrimento frente à ditadura.


“A lua, tal qual a dona de um bordel

Pedia a cada estrela fria um brilho de aluguel”

  • Os políticos (lua - sem brilho próprio) que defendiam o regime militar (bordel), assim como os militares de alta patente (estrela fria - distintivos) que sustentavam a época (brilho de aluguel), são apresentados de forma figurativa, para dizer o quanto esses políticos se vendiam ao regime, de forma a explorar a população brasileira e os recursos do país, visando benefícios pessoais.


“E nuvens lá no mata-borrão do céu

Chupavam manchas torturadas

Que sufoco

Louco”


  • A música faz referência ao órgão do governo ditatorial chamado DOI-CODI (Destacamento de Operações de Informação - Centro de Operações de Defesa Interna). Esses centros eram os tristes cenários de torturas e assassinatos aos brasileiros que se opunham ao governo, tais crimes eram sempre escondidos e disfarçados.


“O bêbado com chapéu-coco

Fazia irreverências mil

Pra noite do Brasil

Meu Brasil

Que sonha com a volta do irmão do Henfil

Com tanta gente que partiu

Num rabo de foguete”

  • Henrique de Souza Filho, o Henfil, era um cartunista que usava do humor para fazer críticas sociais e defendia o fim da ditadura. Seu irmão, Herbert José de Souza, conhecido como Betinho foi um sociólogo e ativista dos direitos humanos exilado na época ditatorial. A música fala também sobre o desejo do povo pela volta das pessoas exiladas, referenciando Betinho.


“Chora

A nossa Pátria mãe gentil

Choram Marias e Clarisses

No solo do Brasil”

  • O Hino Nacional é citado como uma ironia, pois o país sofria duras penas dos governantes, que eram responsáveis por proteger sua população.

  • A música também fala do sofrimento daqueles que foram torturados e mortos, deixando não só a vida, mas suas famílias, como o metalúrgico Manuel Fiel Filho, marido de Maria e o jornalista Vladimir Herzog, filho de Clarice.


“Mas sei que uma dor assim pungente

Não há de ser inutilmente

A esperança

Dança na corda bamba de sombrinha

E em cada passo dessa linha

Pode se machucar

Azar

A esperança equilibrista

Sabe que o show de todo artista

Tem que continuar”

  • A população brasileira que lutou contra a ditadura é a estrela da música e é mostrada com sua esperança e força.


Sabendo disso, escutar esta canção se torna uma nova experiência. Conhecer nossa história, seus símbolos e as lutas que nosso povo teve que travar contra um governo cruel é um alerta para a população, que deve sempre monitorar as atitudes e decisões de seus representantes, exigir seus direitos e cumprir seus deveres.



Texto: Mariana Vianna

Edição: Natalie Vanz Bettoni

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